domingo, 21 de fevereiro de 2010

Quase

Em um pequeno subúrbio de uma pequena cidade, vivia Amelie. Que cidade era essa não importa pra nossa história. Amelie devia ter por volta de uns quinze anos. Era assistente de cabeleireiro de um pequeno salão, aliás, Amelie não sabia por que era chamada de assistente, pois cortava, lavava e penteava cabelos mais que sua chefe.

Amelie morava com seu pai em uma pequena casa. Sua mãe os abandonou quando Amelie era um pequeno bebê. Seu pai era frio e distante. A vontade que Amelie tinha de abraçá-lo só era menor que o medo de ser rejeitada por ele.

Amelie morria de amores pelo assistente do jornaleiro, que também trabalhava mais que o jornaleiro chefe. A pequena banca de jornal ficava a alguns quarteirões do salão que Amelie trabalhava, assim ela sempre parava na banca para “olhar revistas”.

 Ela acreditava que o menino do jornal, ela o chamava assim, também sentia algo por ela. Um dia, enquanto saía do trabalho, Amelie viu, pelo canto do olho, o menino olhando bobamente pra ela. Aquele foi o dia mais feliz da vida de Amelie.

Na verdade, Amelie não era nem um pouco feliz. Queria receber um salário um pouco maior, poder dizer que ama seu pai, criar um cachorro, mudar seu penteado e namorar o menino do jornal. Mas tinha algo que a impedia: o medo. Medo de ser despedida, medo de ser rejeitada, medo de ser ridicularizada, o bom e velho medo.

Só que, às vezes, a vida nos obriga a tomar uma decisão: ou enfrentamos nossos temores ou teremos uma vida inteira pra nos arrepender. Enquanto observava de longe a banca de jornal esbarrou logo no menino do jornal. Ele estava branco feito papel. Começou a sussurrar algo incompreensível, e então tomando coragem, perguntou se Amelie queria ser sua namorada. Uma palavra, um piscar de olhos, um movimento de cabeça fariam de Amelie a pessoa mais feliz do mundo. Mas o medo foi mais forte.

Amelie girou nos calcanhares e correu, correu e chorou como nunca tinha chorado ou corrido em toda sua vida. E esse é o fim de nossa história. Pois afinal na vida, tudo se resume ao que poderia ter sido. Será? Não sei se você sabia, mas as histórias continuam mesmo depois que se acaba de contá-las.

Talvez, depois do fim da história, Amelie decidiu voltar e dizer o que sentia para o menino. Talvez tenha adotado um cachorro e dado o nome Scoopy. Talvez tenha abraçado seu pai e dito que estava tudo bem. Talvez nem tudo tenha dado certo (será que a dona do salão daria mesmo o aumento?). Talvez o namorado de Amelie tenha adorado seu cabelo Chanel. Quem sabe?

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Psicografando

A carta que um dia eu te escrevi, não abra.
Nela eu dizia que não queria mais te ver, que você nada significava pra mim.
Estava recheada de inverdades sobre nós.
Quero que saiba que só escrevi aquilo, pois achava que eu iria partir pra nunca mais voltar.
Que iria sem esperanças de voltar vivo.
Mas, voltei, mesmo que ainda sem esperanças.
Voltei por você. Pois você chora e diz que não vive sem mim.
E agora observo, de longe, que embora seus olhos ainda estejam vermelhos, você não mais chora.
E aos poucos foi se recuperando, até sorri  às vezes.
Pensando melhor, abra a carta.
Acho que vai ser melhor assim.