quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Você não é especial

Tom era apenas mais uma pessoa na multidão. Dessas que podem passar várias vezes por você, mas que agente nunca repara. Ele é um bom funcionário, mas nada de mais. Joga bola no fim de semana, mas não se destaca. Tudo em sua vida é regular.

Tom estava bem com isso, até que um dia, resolve entrar em uma livraria e comprar um livro (estranho se ele saísse com uma bicicleta), Você é especial, por Fanny Champignon. O livro através de uma narração espetacular mostra que cada um não é só mais um e essas coisas que só livros de auto ajuda dizem.

Tom, maravilhado com o livro, se esforça pra ser notado. Mas ssua vontade de ser notado só perde pra sua habilidade de não ser notado. Desolado, Tom sai desconsolado pela rua, tenta gritar: Hey, olhem pra mim, me notem!, mas só balbucia palaras sem sentido. E, tomado de desespero, resolve tomar uma atitude drástica. No topo de um edifício, decide pôr fim a sua existência despercebida por todos.

Ao olhar de cima para aquelas pessoinhas, Tom pensa:" Idiotas, não percebem que vocês são seres humanos únicos dotados de qualidades e defeitos e que não tem ninguém igual  em todo o mundo? Que são a máquina mais complexa já inventada? A mágica do universo materializada? " Só então, Tom percebeu: ninguém se dava conta disso. Também percebeu que  não era tão especial. Pois todos os outros eram, de certa forma, iguais a ele.

Ao se dar conta de que não se é especial, torna-se especial....



P.S.: Depois de milanos sem escrever, até que não ficou tão ruim...

domingo, 20 de junho de 2010

Ideal

A perfeição morava na moça da varanda
E, aquele pobre admirador  não se cansava de observa-la
Ela, não se sabe se por displicência ou por pura maldade, não dava conta da existência do pobre rapaz
E ele, a admirá-la...
Ele, só via sua silhueta lá no longe, mas já era uma alegria pros seus olhos atentos
E ela, a ignorá-lo...
Então, em uma manhã de setembro, ele, criando coragem, bateu na porta da moça e se declarou
E ela, sorrindo, disse que namoraria com ele
E namoraram...
E a perfeição, aos poucos, foi abandonando a moça da varanda
Então, aconteceu...
Ele partiu
Mas não foi pra longe
E todos os dias, escondido, observava a moça da varanda
E ela, a esperá-lo
E ele, a admirá-la...

sábado, 3 de abril de 2010

Motivo

Nós nascemos por puro prazer?
[De alguém?
Não nascemos pra ser
Advogados
Engenheiros
Professores
Cristãos [principalmente
Na realidade, nem nascemos pra ser
Nascemos pra estar!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Quase

Em um pequeno subúrbio de uma pequena cidade, vivia Amelie. Que cidade era essa não importa pra nossa história. Amelie devia ter por volta de uns quinze anos. Era assistente de cabeleireiro de um pequeno salão, aliás, Amelie não sabia por que era chamada de assistente, pois cortava, lavava e penteava cabelos mais que sua chefe.

Amelie morava com seu pai em uma pequena casa. Sua mãe os abandonou quando Amelie era um pequeno bebê. Seu pai era frio e distante. A vontade que Amelie tinha de abraçá-lo só era menor que o medo de ser rejeitada por ele.

Amelie morria de amores pelo assistente do jornaleiro, que também trabalhava mais que o jornaleiro chefe. A pequena banca de jornal ficava a alguns quarteirões do salão que Amelie trabalhava, assim ela sempre parava na banca para “olhar revistas”.

 Ela acreditava que o menino do jornal, ela o chamava assim, também sentia algo por ela. Um dia, enquanto saía do trabalho, Amelie viu, pelo canto do olho, o menino olhando bobamente pra ela. Aquele foi o dia mais feliz da vida de Amelie.

Na verdade, Amelie não era nem um pouco feliz. Queria receber um salário um pouco maior, poder dizer que ama seu pai, criar um cachorro, mudar seu penteado e namorar o menino do jornal. Mas tinha algo que a impedia: o medo. Medo de ser despedida, medo de ser rejeitada, medo de ser ridicularizada, o bom e velho medo.

Só que, às vezes, a vida nos obriga a tomar uma decisão: ou enfrentamos nossos temores ou teremos uma vida inteira pra nos arrepender. Enquanto observava de longe a banca de jornal esbarrou logo no menino do jornal. Ele estava branco feito papel. Começou a sussurrar algo incompreensível, e então tomando coragem, perguntou se Amelie queria ser sua namorada. Uma palavra, um piscar de olhos, um movimento de cabeça fariam de Amelie a pessoa mais feliz do mundo. Mas o medo foi mais forte.

Amelie girou nos calcanhares e correu, correu e chorou como nunca tinha chorado ou corrido em toda sua vida. E esse é o fim de nossa história. Pois afinal na vida, tudo se resume ao que poderia ter sido. Será? Não sei se você sabia, mas as histórias continuam mesmo depois que se acaba de contá-las.

Talvez, depois do fim da história, Amelie decidiu voltar e dizer o que sentia para o menino. Talvez tenha adotado um cachorro e dado o nome Scoopy. Talvez tenha abraçado seu pai e dito que estava tudo bem. Talvez nem tudo tenha dado certo (será que a dona do salão daria mesmo o aumento?). Talvez o namorado de Amelie tenha adorado seu cabelo Chanel. Quem sabe?

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Psicografando

A carta que um dia eu te escrevi, não abra.
Nela eu dizia que não queria mais te ver, que você nada significava pra mim.
Estava recheada de inverdades sobre nós.
Quero que saiba que só escrevi aquilo, pois achava que eu iria partir pra nunca mais voltar.
Que iria sem esperanças de voltar vivo.
Mas, voltei, mesmo que ainda sem esperanças.
Voltei por você. Pois você chora e diz que não vive sem mim.
E agora observo, de longe, que embora seus olhos ainda estejam vermelhos, você não mais chora.
E aos poucos foi se recuperando, até sorri  às vezes.
Pensando melhor, abra a carta.
Acho que vai ser melhor assim.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Descoberta

Há muito ele andava dentro daquele túnel, queria saber o que tinha do outro lado.

Sob seus pés havia trilhos bem velhos, diga-se de passagem.

Ele andava e andava e só enxergava escuridão, ou não enxergava nada, dá no mesmo.

Até que lá bem longe, quase tão longe onde as vistas podem enxergar, ele viu uma pequena luz.

Conforme a luz se aproximava ia ficando maior e ele ouvia, ou achava que ouvia, um barulho de trem (espero que  você saiba como é o barulho de trem).

Então ele fez a coisa mais inteligente que pensou (não tinha pensado em mais nada) e desandou a correr na direção oposta da luz.

 Mas quanto mais corria mais a luz chegava mais perto e o barulho ficava mais alto (havia mesmo barulho?).

Foi nesse momento que ele fez uma coisa mais inteligente ainda, como não era mais rápido que o trem e não podia escapar pros lados, (o túnel era muito estreito) parou e resolveu encarar o trem de frente (contando, não parece uma coisa lá muito inteligente de se fazer).

Mas veja só, não era um trem, nunca foi, era apenas um pequenino vaga-lume que queria saber o que havia do outro lado do túnel.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Ação



E no princípio era o verbo.

Caminhar. Esbarrar. Se encantar. Sorrir. Passear.
Reencontrar. Elogiar. Convidar. Encantar. Seduzir. Se seduzir.
Beijar. Se apaixonar. Apaixonar. Abraçar. Beijar. Acariciar. Amar.
Sentir. Fazer sentir. Beijar. Deliciar. Amar. Amar. Gozar. Fazer gozar.
Dormir. Acordar. Sair. Ir embora. Fugir. Parar. Se arrepender. Chorar.
Voltar. Reencontrar. Se desculpar. Sorrir. Abraçar. Beijar. Ter. Ser. Amar. Viver.

E no princípio era o verbo.