sábado, 15 de janeiro de 2011

O homem das mil faces

Havia um homem que não gostava muito de sua cara. Decidiu usar um outro rosto, com uma expressão mais jovem. Gostou do resultado. Achou que no trabalho, os outros pareciam olhar estranho pra ele. Então, resolveu por uma outra cara, algo sério, responsável. Problema resolvido, pararam de achá-lo estranho. Até gostaram dele e lhe contaram piadas a tarde toda, foi um grande dia no trabalho. Mas ainda não era o suficente. 

Quando estava na feira, teve a impressão de que falavam mal dele. Daí, pôs-se a montar uma nova cara pra si. Quallquer coisa entre o jovial e o responsável. Uma só não, duas, três, sete, dezenove, um milhão. Uma cara romântica e bucólica para o entardecer no outono,outra mais profunda e espiritual para ir a igreja, descontraída e brincalhona pro happy-hour e assim por diante. Tudo estava perfeito até que (sempre o "até que" ou o "mas") ele conheceu a garota com a cara mais lind... cara não, (face ou rosto, o que você achar melhor) que ele já tinha visto, e olhe que ele já tinha visto muitas caras e faces e rostos. E então, nenhuma de suas caras parecia ser boa o suficiente, nem a jovial, ou a responsável, muito menos a espiritual. 

E a garota da cara ou face ou rosto mais lindo de todos se aproximava do nosso protagonista. E vocês podem imaginar o desespero dele, com aquele monte de rostos e sem saber qual usar. E uma coisa bem estranha ocorreu: conforme ela se aproximava, as caras do rapaz iam caindo (por que estavam umas sobre as outras caso não tenha ficado claro). E por fim sobrou aquela da expressão jovial que, cá pra nós, o fazia parecer um bonachão. E quando a última máscara caiu (afinal, não passavam de máscaras), a moça do rosto lindo gritou horrorizada! O rapaz das mil caras ofendeu-se, pois não era tão feio assim. Só então percebeu, onde antes estava seu rosto não havia mais nada, apenas um espaço vazio. Como aquilo tinha acontecido? Será que saiu junto com alguma daquelas máscaras? Ou de tanto tentar esconder a si mesmo, acabou destruindo aquilo que fazia dele ele mesmo? Não me pergunte, sou só o cara que digita as histórias.

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Fabiano Che

4 comentários:

Vanessa Gomes disse...

Meu irmão. Eu tava hoje procurando textos bons pra ler, e achei esse eu.
Muito bom, muito bom mesmo!

Fazia tempo que eu não lia esse tema tão brilhantemente escrito.

Boa!

MaJuH disse...

Muito bom o seu blog...os textos então!
:)
Bjos Fabiano!

Giuliano Marley disse...

Você ainda é meu vestígio de pseudo-lucidez...

william disse...

Brilhante!
Sempre com aquela dose de crítica social libertina.

Esses últimos minutos sacudiram minha mente.